resenha: eliminadorzinho – eternamente,

O segundo álbum da banda paulistana de rock jovem quase triste porém muito alegre e solar eliminadorzinho (o nome carrega uma certa semelhança com o desenho Invasor Zim, o que para mim diz muito) é uma das grandes surpresas, ao menos para euzinha, de 2025. eternamente, é um disco que mostra os jovens voando – não à toa, um querubim na capa – e entrega que talvez haja alguma razão no bordão de que “o roque não morreu”.

Se por um lado não parece ter feito crescer o hype sobre o power trio, o novo álbum demonstra uma maturidade musical impressionante, a qualidade de produção faz lembrar a diferença entre o Guided by Voices antes e depois da entrada de Tobin Sprout (o jovem que ensinou Rob Pollard e cia a usar o Tascam 4 canais de fita cassete em que foi gravado o seminal Bee Thousand), baseada numa percepção mais acurada de como se faz lo-fi na era do hi-fi, inaugurada pelos Strokes e seu truque de fritar à crocância os vocais e a partir daí ir fritando o resto, mas de um jeito que as coisas soem bem e não uma maçaroca (que é o mais comum de acontecer nesses casos).

O fato de contarem com um baterista bom faz toda a diferença, e mesmo numa banda que não se identifica de bate-pronto com o punk, mesmo assim reforça o axioma de que “para se ter uma boa banda punk, primeiro se precisa de um bom baterista” (há exceções, mas divago). A paleta sonora também cresce para além das tags anteriores associadas ao grupo, emo midwest, shoegaze e pós-punk – há algo de post hardcore ali e muito de Superchunk, certo Dinosaur Jr e mais ainda de Built to Spill e dougmartschisses várias. Em 2025, o eliminadorzinho está pronto para tocar por diversas bibocas mundo afora, superando as influências que parecem ter dado vida à banda: estão para o Polara como o Home Front está para o Blitz pós-punk. Seja na angústia de “Cinza e Carmesim”, na levada despojada de “Viação Andorinha” ou na empolgação do “Tema do Centro da Terra” (na escola de clássicos cult instrumentais indies como “Night Society” do Silver Jews ou “Is This Music?” do Teenage Fanclub), o eliminadorzinho tem muito a entregar ao mundo nesse álbum – e se pá podem ir além, viu? Maleronka sugeriu aqui que eles ouçam o Doug Martsch punk do Treepeople e também Les Thugs, já eu sou mais modesto e falo que vale sacar Nation of Ulysses e Fuel (o Fuel bom, de quem falamos aqui nesse episódio do Salão). Será?

  • Amauri Gonzo é o Caronte das Viagens ao Fim da Noite, antifa, jornalista, palestrinha profissional e marxista heterodoxo. Foi editor de sites como Vice Brasil, + Soma e Ponte Jornalismo, repórter no G1 e mais. Já traduziu e revisou títulos para editoras como Veneta, Autonomia Literária e sobinfluencia, além de ser coordenador de programação da FLIPEI.

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