kanye west bianca censori no grammy

Quanto vale o show ou é por Grammys?

Prometi não falar tanto dos EUA neste ano, mas o Musk conduzindo um golpe de Estado durante o final de semana e a maior premiação do Complexo Industrial-Musical chutando a janela de Overton pros cafundós da direita pra fechar o domingo foi por demais forte simbolicamente para eu não me etc

Bom, pra começo de conversa, sobre o Milton Nascimento não ter colado de VIP nesse bagulho: nem era pra ele colar e nem tinha espaço pra ele colar. Por mais que o Grammy seja um braço liberal dos EUA, que lá é essa esquerda lá deles que pra gente é direita, era um braço desse bagulho que é o que eles têm de progressista, foi um evento submisso à xenofobia, a essa nova ideia do que é o Sonho Americano, o que são os EUA já na chave do Trump.

Beleza, galera, fodace o Drake, mas o Elon Musk deu um golpe neste final de semana, entrou com seus moleques de 20 anos e baixou os dados de pagamento do país porque eles vão decidir o que será pago e dane-se. Ninguém fez nada e a indústria cultural celebra dando prêmios prum som do Kendrick detonando um canadense. Dane-se o Drake de novo e em muitos sentidos, ele é um provável pedófilo ou no mínimo efebolfílico que tem um método de sucesso controverso ao se aproveitar escrota e capitalisticamente do multiculturalismo que, uou, pelo bem é oposto a essa ideia de AMERICANA, porra, o Kendrick tá de calça jeans justa e fivelão na capa do disco mais recente, completamente black cowboy, e antes tava ali dizendo que o mestiço é NOT LIKE US. No contexto o papo dele é tirar o Drake de não preto e de boy, mas na real tem esse outro contexto maior que isso serve sim pro sai fora do meu mercado seu não norte-americano/estadunidense. Deram sete prêmios pruma diss (tá, um foi pra outro som). 

Na mesma leva estão dando o primeiro grande Grammy pra Beyoncé, a maior cantora negra da sua geração, pro primeiro disco de country dela, o sertanóia deles, a capitulação pra outra metade financeira da indústria que foi identificada com a branquitude dos EUA. A roça mística dos caras,. Ah, ela se reapropriou – beleza, aceito, mas também só ganhou o premiozão fazendo assim. Um dos maiores nepobabies desse momento e lugar colou com um castelo de quase 5k dols na cabeça. Sutil como uma retroescavadeira. E isso torando enquanto o império deles cai. Que sonho.

Como fica em ruínas essa ideia mesopotâmica, babilônica do talento como unidade de medida no mapa cultural. As fluidas métricas definidas no centro decisório do Complexo Industrial-Musical – premia-se por números os artistas novos que apontam ou abrem rotas comerciais, por subjetivos legados às velharias – nos dizem cada vez menos que não formas. Soluções cada vez mais estéreis. Os talentos leves e pesados da Babilônia perdem, a cada solavanco, lastro. É por quilo?

  • André Maleronka é diretor criativo e ⅓ da Caro Vapor Vidas. Ombudsman do mundo no Crise Crise Crise, comandou a redação da VICE durante a existência do veículo no Brasil. Antes disso publicou em Rolling Stone, Overmundo, +Soma, Agora SP, EleEla e Trip. Art punk.

    Ver todos os artigos
×