O Carnaval de rua de S. Paulo já morreu?

O Carnaval de rua de S. Paulo já morreu?

Ô abre alas que a nova empreitada com a Pó de Vidro chegou pra abalar. Veio depois do Carnaval e todos nós queríamos que tivesse vindo antes, mas fala um pouco das finalidades de Carnavais de rua na cidade de São Paulo, e chega sim depois do final do Carnaval de rua de S. Paulo. Coisas que inclusive se resolveriam com o Estado Permanente de Carnaval. Pra já adiantar, o papo crise que deu a partida no esforço audiovisual é a seguinte: as celebrações carnavalescas na rua da capital paulista tiveram algumas mortes, e renasceram sempre diferentes, pro bem ou pro mal, por bem ou por mal. Damos algum gosto disso no vídeo, e nosso desejo pós-capitalista é elaborar muito mais sobre, e num formato maior. 

Este vídeo consiste numa entrevista com o antropólogo Viny Rodrigues sobre o Carnaval de rua em São Paulo ilustrada com trechos pinçados de três curtas encomendados pela Secretaria de Turismo da Cidade de São Paulo e lançados nos anos de 1937 e 1938 para promover a festividade local. Encontrei os três filmes no Projeto Nitratos, da Cinemateca Brasileira. São Momo Vem Ahí de 1936 da Victor Film, 1937 Carnaval Paulista e Carnaval Paulista 1938, ambos da Rossi-Rex Film. Curiosamente, descobri que estes curtas que misturam em diferentes doses documentarismo e publicidade foram exibidos em sequência e sem nenhuma explicação que não o título O Carnaval de São Paulo nos anos 1930 pelo programa Comando da Madrugada do Goulart de Andrade em sua temporada de SBT, portanto em algum momento entre 1986 e 1994. Não lembrava de ter assistido isso na TV, mas é impressionante como o Comando do Goulart se reapresenta como uma faculdade em que fui aluno ouvinte, aluno espectador no caso. 

O resultado é menos explicativo do que sensorial: algumas repetições – o maior Carnaval do mundo – permanecem, então frisamos isso na edição. Sendo um filme que parte do material encontrado e realizado e de uma teoria, mas não de um roteiro, uma das ideias principais foi contar um pouco sobre, e principalmente mostrar um pouco, com a ajuda do material disponibilizado pelo Projeto Nitratos, as diferentes formas que as manifestações carnavalescas de rua aconteciam na cidade. O material de arquivo é muito rico nesse sentido: pode-se ouvir, por exemplo, o samba duro vindo do interior paulista praticado na capital em áudio captado na época, algo muito citado em artigos acadêmicos, livros e colunas de jornal (notadamente a intitulada O Carnaval dos Cordões, de Plínio Marcos para a Folha de S.Paulo em 1977), mas que não teve gravações e lançamentos comerciais então, só postumamente para fins de resgate. Também pode-se ver nas imagens de arquivo as diferenças entre as formas de brincar Carnaval das populações negras e das brancas da cidade – embate explorado no livro Carnaval em Branco e Negro: Carnaval Popular Paulistano, 1914-1988 da pesquisadora Olga Rodrigues de Moraes von Simon. Então este pequeno vídeo seria, com toda sorte, um exercício inicial para uma investigação de mais fôlego, mais detalhada, com outros materiais de arquivo tanto na forma de entrevistas como na de publicações da imprensa contando essa história das mutações nas formas de brincar o Carnaval na cidade. 

Direção: André Maleronka e Larozza
Direção de Foto: Daniel Lupo e Larozza
Produção: Patrícia Heit
Montagem: Victor Ciappina
Entrevistado: Viny Rodrigues
Agradecimentos: Cinemateca Brasileira

  • André Maleronka é diretor criativo e ⅓ da Caro Vapor Vidas. Ombudsman do mundo no Crise Crise Crise, comandou a redação da VICE durante a existência do veículo no Brasil. Antes disso publicou em Rolling Stone, Overmundo, +Soma, Agora SP, EleEla e Trip. Art punk.

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